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JULGADAS POR SE ENTREGAR

Atualizado: 4 de mai. de 2023

O hábito de não julgar pode se transformar em ferramenta importante, capaz de cultivar hábitos felizes. Desde de muitos séculos atrás, as mulheres são julgadas por decidir se entregar a paixão... E o que aprendemos com isso, vivendo no século XXI?


Se um homem se ajoelhar para uma mulher e lhe fizer promessas mesmo que vãs e inverídicas, este será considerado um herói. Se uma mulher se ajoelhar e fizer um convite de parceria, esta será invariavelmente julgada.

Ainda na adolescência minha avó materna me preparava para os #julgamentos da nossa sociedade claramente machista, misógina e cruel. Dona Nazaré me falava da minha tia, que rompeu com os relacionamentos tradicionais para se entregar a paixão de um homem divorciado, na época, casamento entre divorciados era uma atitude altamente desrespeitosa perante a sociedade, sendo as mulheres extremamente julgadas, minha tia foi.


As cerimônias de casamento sempre a emocionavam muito, e o sonho do próprio casamento nunca aconteceu. O que sempre ouvi sobre ela através da minha avó, é que era uma modista #talentosa, #corajosa, #temperamental, de sangue quente, opinião #firme e elegância sem igual, só a conheci por fotos, para mim, ela compõe a lenda das mulheres fortes que enfrentam família e sociedade para viver seu grande amor, partiu emocionada aos 33 anos de idade com a cerimônia de casamento de uma amiga, a crise asmática foi mais rápida que o socorro. O socorro veio na medicação errada, choque anafilático, minha tia sucumbiu 3 anos anos de eu vir ao mundo.


Sempre desejei conhecer essa mulher forte, que resistiu a pressão de uma sociedade que a forçava a obedecer padrões, e ela, firmemente decidiu ser feliz, não sei dizer se ela foi, ainda assim, ela decidiu, foi sua resposta a pressão, e essa resposta eu teria que ouvir dela, e de mais ninguém.


Dona Nazaré sábia demais me dizia: Seja independente, tenha autonomia, construa sua casa, seu trabalho, seu caminho, não dependa de ninguém, construa sua família se esse for o seu desejo, #viva e seja feliz. Tente não agredir ninguém, tendo a ciência, que apenas por ser você mesma, já estará desagradando e agredindo, portanto, não ligue, não olhe para trás, mire no seu objetivo e siga em frente. Ninguém agrada ninguém!

Minha avó, mesmo com sua #simplicidade me falava da história da Dama das Camélias, criada por Alexandre Dumas Filho em 1848, deu origem a uma das mais famosas óperas do século XIX - La Traviata, de Verdi, e a pelo menos 19 filmes. Digo pelo menos 19 porque está no wikipédia em francês, mas podem haver outros. O cinema hollywoodiano e Greta Garbo não ficaram de fora.

Muito mais do que focar no drama da trágica história, minha avó Nazaré focava nos #ensinamentos, e quando ela me contava, o que uma adolescente de treze a quatorze anos diria: Eu achava que a Dama deveria mandar todo mundo para PQP e até nesse momento a Dona Nazaré dizia: Filha, não pode ser assim!

Ela contava que a Dama das Camélias, uma cortesã que ao se mudar para uma cidade longínqua, onde pontualmente recebia a visita do amado, era extremamente julgada e condenada pela cidade, o que restringia seu espaço a exclusividade do seu lar, seu jardim, suas Camélias. Certo do dia, a Dama passou a receber esterco de gado e de porcos em sua porta, o escudeiro que a zelava perguntava: - Senhora, o que faço com essa indignidade? Calmamente, a Dama lhe dizia: Misture com o areia do jardim e espelhe entre as Camélias, e quando começarem a florar, lhes devolveremos o presente. O lacaio horrorizado dizia: Senhora, recebe esterco e retribuirás com flores? - Sim, de todas as cores, afinal nós só podemos presenter com a essência que nutrimos, respondia ela. As belas caixas artesanais eram endereçadas as nobres damas da sociedade, com camélias de todas as cores, fitas de cetim e o bilhete: Nós só podemos presenter com a essência que nutrimos, cada um dá presente que tem. Ass: Dama das Camélias.



Madame de Pompadour, famosa cortesã e amante de Luís XV de França.


Belas, influentes, julgadas e a margem da sociedade


Para entendermos melhor as #Cortesãs, e apenas contextualizando do ponto de vista histórico e social, conforme os usos do século XVI, era termo utilizado para referir-se às amantes que se associavam aos ricos e poderosos nobres que as proviam de luxo e bem-estar, assim como status junto à corte, em troca de sua companhia e seus favores. A própria palavra cortesã está indissoluvelmente associada à palavra corte, como sinônimo dos nobres que podiam ter contato direto com a realeza.


Durante o período da Renascença Europeia, as cortesãs desempenharam papel importante nas classes mais altas, muitas vezes substituindo a #esposalegítima em eventos sociais. Era relativamente comum, naquela época, que #maridos e esposas nobres vivessem separadamente, mantendo o #casamento apenas por questões de linhagem sanguínea e #preservação de alianças políticas, e que os maridos procurassem a companhia agradável e satisfação sexual nas cortesãs.


Esses não eram e ainda são por acaso, comportamentos sociais machistas e misóginos, provenientes de uma sociedade eximiamente patriarcal?


E o que é que a Dama das Camélias, a minha Tia e a Carla Dias tem em comum? Se entregaram ao #amor, pagaram o alto preço da felicidade ou não, de um ou poucos momentos. E o que maltrata não é a escolha e sim o peso de serem julgadas por uma #sociedade, que sim, é hipócrita.

Em uma sociedade que casamentos devem existir mesmo que infelizes. Que uma mulher separada não tem o mesmo valor social que uma mulher casada e que mulher solteira está disponível para aceitar qualquer cantada. E ninguém faz a pergunta principal. Esses desacertos dessa sociedade patriarcal, machista e misógina nos faz mais felizes?


Acredito que em ambos os três casos, o da ficção e os outros dois da vida real, os amados não valiam muito a pena, caso contrário, o final dessas histórias não seriam dramáticos, ou tão dramáticos. A questão é que mesmo lentamente estamos evoluindo. Observando o contexto contemporâneo, #CarlaDias continuará durante um tempo como manchete das mídias que teimam em extrair o pior de todas as situações, sendo julgada, principalmente por mulheres, e nesse sentido, sou muito grata, em ter sido preparada desde muito cedo, por uma mulher a frente de seu tempo, que me ensinou a não me permitir julgar, e tão pouco me importar se seria julgada. Ainda assim, como muita responsabilidade emocional.


A Dama Cortesã presenteou a sociedade com suas Camélias. Minha tia, trilhou seu caminho se permitindo as emoções do sonho inconcluso. Carla Dias saiu do BBB21 com a mesma elegância da cabeça erguida que entrou, ela, que viu a morte de perto, enfrentando um Câncer, sabe bem o valor da intensidade, e conhecem o valor da entrega ao Amor.


E diferente dos demais textos, que sempre faço um fechamento, esse texto, é um texto aberto e democrático, para análises individuais de quem os lê.

Ainda assim pergunto: Quem nunca ousou se entregar a #paixão será capaz de reconhecer e escolher um #amor verdadeiro?

Assim encerro essa escrita com Camões, quando nos poetiza a alma, ao falar de paixão e de amor:


Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É um cuidar que se ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Para vocês queridas leitoras, deixo meu texto em forma de uma abraço reflexivo e fraternal.


Ps:. Raquel Marinho, eu mesma!

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